Ter um gatinho idoso pode ser um desafio tanto para o tutor, como para o veterinário que irá atende-lo. Eles normalmente são menos tolerantes ao manejo, mas também tem mais doenças – muitas vezes combinadas – e frequentemente precisam ser medicados de maneira contínua.
O QUE É UM GATO IDOSO
Os gatos passam por quatro estágios de vida: filhotes, adulto jovem, adulto maduro e sênior. Gatos sêniores, ou gatos idosos, são considerados aqueles a partir de 11 anos de idade – e eles tem necessidades especiais. Esse material foi feito para ajudar você a entender melhor as mudanças físicas e comportamentais que acontecem na “melhor idade” do seu gatinho. Alterações comuns em gatos idosos incluem:
- Mudanças de comportamento e padrão de sono
- Aumento de vocalizações
- Dores ao se movimentar: pular, subir escadas, entrar e sair da caixa de areia.
- Perda gradativa de audição, olfato ou paladar
- Perda de peso, especialmente de músculos, e flacidez
- Diminuição na capacidade de absorver proteínas e, ao contrário do que muitos pensam, maior necessidade de proteínas de alto valor digestivo.

REGULARIDADE DE CHECK UPS
Gatos envelhecem mais rápido que humanos e, por isso, precisam de exames com uma frequência maior do que nós. Além, disso, eles não gostam de demonstrar sintomas de fraqueza ou doença, o que aumenta mais ainda a importância de exames regulares de forma preventiva. Um gato de 11 anos é o equivalente a um ser humano de 60 anos e cada ano do gato é o equivalente a 4 anos nossos. Imagine chegar ao geriatra com exames de 4 anos atrás! Por isso, é importante que gatos entre 11 e 15 anos façam check ups semestrais e a partir dos 15 anos façam a cada 4 meses.
Esses exames devem obrigatoriamente incluir:
- Consulta com avaliação do peso e escore muscular, inspeção da cavidade oral, avaliação de dores crônicas e mensuração da pressão arterial.
- Exames de sangue: Hemograma, bioquímicos, incluindo avaliação de tireoide.
- Exames de urina para avaliação da Doença Renal Crônica
- Exames de imagem: seu veterinário poderá solicitar exames como ultrassonografia, radiografias, ecocardiograma.

MEU GATO IDOSO ESTÁ COM DORES?
A dor é muito difícil de ser avaliada em gatos pois eles tendem a esconder sinais de desconforto e doença. O veterinário de felinos deve sempre avaliar sinais subjetivos de dor como: não gostar de ser pego no colo ou tocado em alguma região específica, tremores musculares ou perda de musculatura, hesitar ao pular para subir ou descer de locais altos, lamber excessivamente ou evitar lamber uma região específica do corpo.
A partir dos 10 anos de idade os estudos mostram que cerca de 95% dos gatos tem Doença Articular Degenerativa (DAD). Qualquer mudança no comportamento ou rotina do seu gato pode ser um sinal de dor. Muitos desses pacientes precisarão tomar medicações para dores crônicas.

Veja algumas dicas para ajudar seu gato idoso:
- Degraus baixos ou rampas para que ele consiga ter acesso aos lugares favoritos dele
- Luz fraca para que ele enxergue melhor obstáculos durante a noite
- Caixa de areia com entrada mais baixa para que ele consiga entrar e sair sem dificuldades
NECESSIDADES ESPECIAIS DE NUTRIÇÃO DO GATO IDOSO
Manter um peso saudável é crucial para envelhecer com qualidade de vida. Gatos idosos tendem a ter doenças que podem aumentar (como a DAD) ou reduzir o peso (como o Hipertireoidismo e Doença Renal Crônica), além do envelhecimento acarretar na diminuição dos músculos. O veterinário de felinos sempre dará uma atenção especial não somente ao peso (que deve ser avaliado em balança pediátrica ou própria para felinos, com maior precisão), mas também à composição corporal do paciente.
Adaptações como comedouros e bebedouros elevados espalhados em diversos locais da casa também irão ajudar o paciente idoso a se nutrir e hidratar adequadamente. Nessa fase de vida, é preciso se atentar à hidratação do paciente – oferecendo alimento úmido diariamente, fontes de água e bebedouros sempre com água fresca. É importante que os potes para comida e água sejam largos para que o gato não encoste as vibrissas (os bigodes!) na beira do pote.
As doenças odontológicas também podem dificultar a alimentação do paciente, além de causarem dores e, mesmo idoso, o paciente pode e deve ser submetido à anestesia inalatória para tratamento periodontal desde que os exames pré-anestésicos permitam o procedimento.
Cabe ressaltar que oferecer uma ração própria para animais idosos facilita a nutrição desses pacientes, porém, muitos deles precisarão de alimento terapêutico devido a outras doenças.
MANEJO DE DOENÇAS DO GATO IDOSO
Muitas doenças tendem a aparecer conforme o gato envelhece e, às vezes, mais de uma ao mesmo tempo. Se você notar alterações nos hábitos e comportamento do seu gato, alerte o veterinário – todas as informações são importantes. Dentre as doenças mais comuns no gato idoso, temos:
- Doença Articular Degenerativa (DAD)
- Doença Renal Crônica (DRC)
- Doenças Periodontais
- Doenças Gastrointestinais
- Doenças Endócrinas (como Hipertireoidismo e Diabetes)
- Câncer
- Hipertensão arterial sistólica
- Disfunção Cognitiva

Sinais de doença em gatos idosos tendem a ser subjetivos, com alterações como:
- Beber mais ou menos água ou fazer grandes volumes de urina
- Náusea, vômitos, perda de apetite, perda de peso ou músculos
- Diarreia ou constipação
- Alterações no hábito de higienização (se lamber demais criando falhas de pelo ou presença de nós e pelame opaco)
- Alterações comportamentais: ansiedade, cansaço, agressividade, apatia, não usar a caixa de areia, mudanças no sono

O manejo dessas doenças é estressante para o gato e para o tutor, nós sabemos. Para isso, o veterinário deve montar um plano para discutir suas preocupações, ideias e formas de tratamento que sejam adaptáveis à realidade daquela família. Os exames de rotina realizados a cada 6 ou 4 meses são a melhor forma de manter a qualidade de vida do gatinho idoso.
O FIM DA VIDA FAZ PARTE
Mesmo que o seu gato idoso visite o veterinário regularmente, pode chegar um momento que a qualidade de vida esteja severamente prejudicada por dor ou doença. Não se frustre, você fez o que podia e nós também. Nesse momento, iremos discutir juntos o melhor caminho a ser tomado. Sempre gosto de lembrar aos meus clientes que vida tem direito de terminar sozinha desde que aquele paciente não esteja em sofrimento ou agonia.
Se a eutanásia for a nossa decisão conjunta, nós iremos explicar como o procedimento é realizado para que o seu gatinho não sofra e você saiba o que esperar naquele momento. Isso não irá minimizar a dor da perda de um gatinho que nos acompanhou por tanto tempo, mas você estará acolhido por uma equipe que entende a sua dor.
M.V. Anna Bandini
CRMV SP 37891
Graduada na Universidade Federal Rural do RJ, tem pós graduação em Medicina Felina pelo Instituto Qualittas, é membro da associação Americana de Clínicos de Felinos (AAFP), certificada como Veterinária Cat Friendly na AAFP e membro da Academia Brasileira de Clínicos Felinos (ABFEL).
